sábado, 16 de outubro de 2010

A filha que nenhum pai quer ter

Comecemos pelo físico: acima do peso. Cabelos curtos. Muita celulite. A filha que ninguém quer ter é assim: fora de qualquer padrão de beleza estabelecido pela sociedade moderna. Mas não tem problema né? Claro que tem! Espera pra ver o que mais essa maldita tem de ruim!

Estudo: péssima aluna, nunca passou sequer um semestre na escola sem ficar de recuperação (e olha que era escola cara, viu?). Matava aula para ficar rindo, fumando e bebendo com seus amiguinhos degenerados e marginais. Sua melhor amiga? Uma drogada! Péssima influência!

Apesar de feinha, sempre teve muitos namorados... começou cedo esta vida de "promiscuidade", Aos dez, já pintava o cabelo e tinha um namorado. Aos onze, tinha suas primeiras experiências bicuriosas. Aos doze, perdeu sua virgindade. Aos treze, era o terror da escola, conhecida como "das trevas". Aos catorze arranjou um namorado inútil e gordo, que traía de vez e quando com suas amiguinhas lésbicas sem futuro.

Aos quinze virou lésbica de vez. E quase se casou com essa menina, que, pobre degenerada, parecia um menino.

Além dessa biografia de horrores, a filha que nenhum pai quer ter é muito teimosa. Faz tudo sem perguntar, e, quando é descoberta, cai em um profundo choro fingido. Faz tudo escondida, gosta de sacanear todo mundo, não consegue se manter em sequer um emprego (nem arranjar um decente) tem seis (vejam bem: SEIS) tatuagens.

A filha que nenhum pai quer é resumidamente gorda, feia, inútil, teimosa, rebelde, lésbica, péssima aluna e tremendamente dramática. Péssima motorista também, cabe acrescentar.

Mas a pior filha do mundo só é a pior filha do mundo porque tem sonhos maiores que essa realidade inóspita que a cerca. Sabe palavras difíceis e como usá-las em momentos difíceis. Sabe francês, inglês e espanhol. Sabe que a vida é feita de escolhas e sabe que as suas nem sempre estarão certas. Sabe escrever um bom texto, sabe cativar qualquer pessoa, sabe qual é a diferença entre Nabokov e Dostoievski. Sabe que independentemente do sexo o amor é possível e sabe da imensa luta que é ir contra a maré. A filha que nenhum pai quer ter tem a força para fazer tudo isso e mais. Ela quer morar em Paris, e todos os dias ver a torre Eiffel pela janela com alegria no coração e pensar: eu consegui.

A filha que nenhum pai quer nunca foi desonesta. Nunca deixou de ajudar ninguém. Nunca tratou ninguém diferente baseado em meras aparências. Nunca quis machucar ninguém, embora tenha machucado.

Sempre esteve lá, disponível, para um carinho ou um afago. Para sentar-se ao lado de uma senhora faxineira e ensinar-lhe geografia. Para escutar broncas de quem quer que seja. Para indicar um livro. Para abrir uma porta. Para dar um abraço. Para adotar algum animal indefeso.

E assim vai ser até ela morrer, porque por mais que seja “a pior filha do mundo” nos moldes sociais, ela é, do seu jeito, coisa para se ter orgulho, e nada mais.

Um comentário:

  1. Mas é "A" Manu. A Manu que eu Adoro desse jeito.
    ...super-hiper-mega-liper-luper-advanced-plus besta!
    =D

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